O pescoço na Síndrome de Down
O pescoço na Síndrome de Down
A importância da avaliação de rotina
Anatomia do pescoço:
A coluna cervical é formada por 7 vértebras e possue uma curvatura normal conhecida como lordose.
O crânio se articula com a primeira vértebra cervical (C1), que é conhecida pelo nome de Atlas, formando a articulação occipito-cervical.
A segunda vértebra cervical (C2) é chamada de Axis.
A articulação entre a primeira e segunda vértebras do pescoço é conhecida como atlantoaxial.
10 a 20% dos pacientes com Síndrome de Down tem instabilidade da coluna cervical alta, ou seja, entre a primeira e segunda vertebras ou entre o crânio e a primeira vertebra.
A articulação entre C1-C2 é extremamente móvel mas pouco estável.
Permite 50% do movimento de rotação do pescoço mas, só 10 graus de flexão (inclinação da cabeça para frente) e extensão (inclinação da cabeça para trás).
O motivo da instabilidade:
O principal responsável é a severa frouxidão ligamentar do principal estabilizador dessa articulação, conhecido como ligamento transverso.
Alterações congênitas no formato das vértebras também contribuem.
A instabilidade da articulação atlantoaxial, quando presente, coloca em risco de lesão, o tecido nervoso da medula espinhal, que passa entre as vértebras.
É importante saber, nas avaliações de rotina, se esse segmento é estável ou não, principalmente, antes das crianças começarem a fazer esportes que colcam o pescoço em risco de traumatismo.
As manifestações clínicas:
A maioria dos pacientes com instabilidade não tem sintomas.
Trata-se de uma patologia silenciosa, porém de risco, se não diagnosticada precocemente.
Quando começamos a avaliação?
Geralmente iniciamos a avaliação entre o terceiro e quarto ano de vida.
É obrigatório estudar o pescoço sempre que a criança for matriculada em esportes de contato que colocam o pescoço em risco de traumatismos.
É fundamental para o profissional de educação física, que ministra o esporte, ter um relatório médico garantindo a estabilidade do pescoço, nas crianças com Síndrome de Down.
Como é feito o diagnóstico?
Nos pacientes sem queixas, teremos o exame físico ortopédico da mobilidade do pescoço livre, sem torcicolo e sem déficit neurológico nos membros como fraqueza muscular ou rigidez.
O padrão da marcha é normal.
Nesses casos, o diagnóstico precoce só poderá ser feito com exame de imagem dinâmico da coluna cervical (pescoço).
Trata-se de uma radiografia do pescoço, em perfil, com posição neutra e outra com a cabeça inclinada para frente.
Fazemos uma medição da distância entre o intervalo atlantoaxial (C1 e C2) e dependendo do valor encontrado, definimos a coluna como estável ou instável.
Os valores normais são explicados para os pais e a medição deve ser feita pelo ortopedista e não somente pelo radiologista.
A estabilidade do pescoço deixa pais, médicos e profissionais de esporte tranquilos quanto a liberdade para a prática esportiva, sem restrição e sem riscos.
O que fazer com as crianças sem sintomas mas com instabilidade visto no exame de imagem?
A recomendação é para evitar esportes com potencial risco de lesão no pecoço e acompanhamento periódico.
E os casos com sintomas?
Quais as queixas apresentadas?
Vimos que, a maioria das crianças que tem instabilidade, não tem sintoma algum.
Uma minoria apresenta queixas, devido a compressão da medula espinhal, que são:
- Dor no pescoço intermitente;
- Anormalidade na marcha;
- Mudança no controle de esfíncteres de urina e fezes;
- Mudança no tonus muscular nos membros.
A recomendação, para esses casos, é de tratamento imediato com descompressão da medula e estabilização do segmento acometido.
A história natural da instabilidade atlantoaxial:
Ainda é desconhecida para muitos estudiosos no assunto.
Não sabemos, por exemplo, se um paciente com instabilidade sem sintomas, um dia, desenvolverá queixas.
Evidências recentes mostram que, há uma tendência para a instabilidade C1-C2 diminuir com o avançar da idade.
Com a maturidade do esqueleto, surge outro problema, relacionado ao pescoço, que vem a ser a degeneração precoce dos discos interverterais dos segmentos mais baixos da coluna cervical.
Não raro, encontramos adultos jovens com Síndrome de Down e dor no pescoço, não devido a instabilidade C1-C2 mas sim, devido a osteoartrose precoce no pescoço.
Imagens radiograficas de degeneração discal são encontrados.
Conclusões:
Fiquem atentos ao exame do pescoço da criança com Síndrome de Down.
A ausência de sintomas, não garante a saúde da coluna cervical.
Exame de imagem de rotina, deve ser feito para proteger a criança contra danos neurológicos.
Acompanhamento anual é necessário neste quesito.
A recomendação atual é para avaliação do pescoço, com exame físico e de imagem, em todas as crianças com Síndrome de Down, antes de iniciarem esportes com potencial risco de lesão na coluna cervical, por permitirem flexão e extensão forçadas durante o esporte.
As principais atividades físicas de potencial risco são:
- Mergulho de cabeça em piscina;
- Esportes equestres;
- Futebol; Basquete, Volei
- Ginástica olímpica e artistica
- Treinamento de lutas.
Fonte: http://amadurecendocomsaude.blogspot.com.br